Silenciadores
Instalação composta por 14 dedos indicadores, fundidos em bronze e soldados em hastes que lembram silenciadores, acessórios cilindricos usados em armas de fogo para abafar o som do tiro. Os dedos foram copiados de 14 pessoas distintas com idade de 7 a 93 anos sendo que a altura de cada haste equivale a altura da boca de cada pessoa cujo dedo foi copiado. A disposição das hastes no espaço expositivo deve ter pelo menos 1 metro de distância, possibilitando o trânsito do público entre cada Silenciador, que deve encontrar a altura aproximada da boca do visitante. Os 14 silenciadores são expostos dentro de uma área circular de aprox 8 metros de diâmetro forrada por brita. Na medida em que o público se movimenta e caminha sobre a brita o som do atrito das pedras faz “shhh”, som que emitimos quando colocamos o dedo indicador na altura da boca pedindo silêncio.
Silenciadores, 2020. Arte em Campo. Estádio do Pacaembu, São Paulo, Brasil
Arte em Campo
O evento gratuito propõe um circuito de arte pelo Complexo Esportivo do Pacaembu, com esculturas e vídeoinstalações de importantes artistas brasileiros e internacionais.
"Arte em Campo" é uma oportunidade para a população revisitar ou conhecer o icônico equipamento da cidade de São Paulo, que esteve fechado durante o ano de pandemia (quando deu lugar a um hospital de campanha) e se prepara para as obras de modernização no início de 2021. O percurso acontece no campo de futebol, quadras de tênis, piscina, e tobogã, espaços ao ar livre ou amplos e arejados, seguindo todos os protocolos de segurança em razão da Covid-19.
Com participação de 53 artistas de 25 galerias, tem organização colaborativa da concessionária Allegra Pacaembu e da produtora cultural VIVA Projects, e expografia de Alvaro Razuk em colaboração com RADDAR, escritório de arquitetura liderado por Sol Camacho. O evento resgata os pilares originários de cultura e lazer do complexo, que serão retomados no novo projeto da parceria público-privada.
Silenciadores, 2020. Arte em Campo. Estádio do Pacaembu, São Paulo, Brasil
Silenciadores, 2020. Arte em Campo. Estádio do Pacaembu, São Paulo, Brasil
Silenciadores, 2020. Arte em Campo. Estádio do Pacaembu, São Paulo, Brasil
Silenciadores - No presente a vida (é) política
curadoria Diego Matos - Central Galeria 2020
Silenciadores, 2020. Central Galeria, São Paulo, Brasil. Foto: Maya Messina
Silenciadores, 2020. Central Galeria, São Paulo, Brasil. Foto: Elisa Canola
No presente, a vida (é) política
“Possibilidade é conteúdo, potência é energia e poder é forma. Chamamos possibilidade um conteúdo inscrito na constituição de um mundo presente, imanência do possível”. ¹
Vasculhar as evidências materiais do passado, colocando-as em questão; ressignificar símbolos, normas e tradições, dando visibilidade ao corpos e fazeres que estão à margem; desalienar as práticas cotidianas, buscando espaços de ativação coletiva; requalificar a noção de trabalho como vivência emancipatória, batalhando contra a precarização e a hiperconexão controlada; questionar formas de poder opressoras, respondendo aos desejos também do outro; evidenciar sujeito e corpo implicados no cotidiano, contribuindo para uma reestruturação do corpo social e, enfim, tomar de volta o caráter público da arte. Estas são possibilidades de ação presentificadas pela produção de dez artistas reunidos na exposição coletiva No presente, a vida (é) política.
Nela, a arte é protagonista dos temas emergenciais da vida democrática, além de dispositivo qualificador das implicações do corpo e do indivíduo no tecido social. Reside a ideia de que o trabalho de arte é um agente de mudança que batalha pela desautomação da linguagem e dos afetos, podendo nos ajudar a clarear os impasses do momento e até mesmo imaginar novos entendimentos para o futuro que se avizinha.
Dez artistas — Bruno Baptistelli, Clarice Lima, Dora Smék, Fernanda Gassen, Fernanda Pessoa, Gabriela Mureb, Gustavo Torrezan, Marília Furman, Paul Setúbal e Rafael Pagatini – confabulam pesquisas, estratégias, ensaios, enunciados, registros e formas de ação conscientes no presente, refletindo permanentemente sobre a possibilidade de vida politizada, coletiva e libidinosa, que não se deixa findar e que não espera pelo futuro prometido das narrativas da religião purificadora, da bonança econômica neoliberal e da crença velada nas formas limitadoras de operar a política democrática e liberal. Portanto, entende-se que a arte é um caminho para vincular à vida sua qualidade essencial de política.
Tal percepção nasce das provocações advindas de reflexões contemporâneas, especialmente da escrita potente de Franco Berardi. Em seu texto, ao falar de nossa época como momento posterior ao futuro sonhado pelas construções utópicas do século passado, ele nos traz o conceito de futurabilidade: “a multidimensionalidade do futuro, a pluralidade dos futuros inscritos no presente e, também, a composição mutável de intenção coletiva” ² . De certa maneira, todos os 24 trabalhos dispostos ao longo da galeria fundamentam-se em experiências pensadas por meio da reinvenção contínua do convívio e da sobrevivência no tempo presente. Portanto, são especulações para uma futurabilidade, ensejando constantemente a iminência do possível.
Se estamos vivendo as consequências catastróficas da aceleração do antropoceno – pandemia pode ser exemplo disso –, pode ser pelos desafios do pensamento e do fazer artístico que conseguiremos destituir o sentido de impotência diante da crise permanente em que vivemos mergulhados. Os mecanismos da arte podem, inclusive, reavivar conflitos, dissensos e antagonismos necessários à esfera pública, algo muito bem pontuado por Chantal Mouffe ao trazer para o debate público uma percepção agonística da democracia ³.
Aliás, a produção contemporânea em arte pode e deve ser lugar da construção de experiências desconfortáveis aos consensos políticos. E é sobre esse desconforto que em certa medida os trabalhos apresentados se assentam.
É importante pontuar que a exposição toma forma no já histórico edifício de esquina do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IAB-SP), lugar que guarda significativas memórias de um lastro cultural de resistência e inovação na cidade. Ocupando o subsolo e o mezanino da edificação, contaminando áreas comuns e sinalizando para a rua, algumas obras acabam por se relacionar de maneira física e simbólica com o local; outras, por sua vez, ganham potência pelo contexto ou promovem atritos com a história política e cultural que dali emana.
// Diego Matos
¹ Duas publicações do filósofo e escritor, professor e agitador cultural italiano Franco “Bifo” Berardi foram lançadas recentemente no país pela Ubu Editora: Depois do futuro e Asfixia: capitalismo financeiro e a insurreição da linguagem. É da primeira delas a epígrafe: BERARDI, Franco. Depois do futuro. São Paulo: Ubu Editora, 2019. p. 179.
² Ibid. p. 182.
³ Essa percepção do político como expressão incontornavelmente antagonista, polarizado e plural comparece de maneira instigante na publicação traduzida para o português dessa filósofa e cientista política belga: MOUFFE, Chantal. Sobre o político. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.
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Presently, life (is) political
“Possibility is content, potency is energy and power is form. We call possibility content inscribed in the constitution of a present world, immanence of the possible“. ¹
To search the material evidence of the past, questioning it; reframing symbols, norms, and
traditions, giving visibility to bodies and actions that are on the margin; disalienate quotidian
practices, seeking spaces for collective activation; requalify the notion of work as an emancipatory experience, battling precariousness and controlled hyper connection; question oppressive norms of power, and also responding to the wishes of others; evidence the subject and body involved in daily life, contributing to a restructuring of the social body and, finally, taking back the public character of art. These are prospects of action made possible by the production of ten artists gathered in the collective exhibition At present, life (is) political.
In it, art is the protagonist of the urgent themes of democratic life, as well as a qualifying device for the implications of the body and the individual in the social fabric. There is the idea that art work is an agent of change that fights for the disengagement of language and affections, and can help us clarify the impasses of the moment and even imagine new understandings for the future ahead.
Ten artists - Bruno Baptistelli, Clarice Lima, Dora Smék, Fernanda Gassen, Fernanda Pessoa, Gabriela Mureb, Gustavo Torrezan, Marília Furman, Paul Setúbal e Rafael Pagatini – carry out research, strategies, essays, statements, records and forms of action in the present, permanently reflecting on the possibility of a politicized, collective, and libidinous life, which does not let itself end and which does not wait for the promised future of the narratives of the purifying religion, of the neoliberal economic bonanza and of the veiled belief in the limiting ways of operating the democratic and liberal politics. Therefore, it is understood that art is a way to link life to its essential quality of politics.
Such perception comes from the provocations arising from contemporary reflections, especially from the powerful writing of Franco Berardi. In his text, speaking of our time as a moment after the future dreamed of by the utopian constructions of the last century, he brings us the concept of futurability: “the multidimensionality of the future, the plurality of the futures inscribed in the present and, also the changing composition of the collective intention” ². In a way, all 24 works displayed throughout the gallery are based on experiences thought of through the continuous reinvention of conviviality and survival in the present time. Therefore, they are speculations for a future, constantly giving rise to the imminence of the possible.
If we are experiencing the catastrophic consequences of the acceleration of the Anthropocene- the pandemic can be an example of this- it may be due to the challenges of thinking and artistic practice that we will be able to remove the sense of impotence in the face of the permanent crisis in which we live. The mechanisms of art can even revive conflicts, dissensions and antagonisms necessary to the public sphere, something very well punctuated by Chantal Mouffe when bringing an agonistic perception of democracy to the public debate ³.
In fact, contemporary art production can and should be the place for the construction of uncomfortable experiences with political consensus. And it is, to some extent, on this discomfort that the works presented are based. It is important to note that the exhibition takes shape in the already historic corner building of the Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IAB-SP) (Institute of Architects of Brazil- Department of São Paulo), a place that holds significant memories of a cultural ballast of resistance and innovation in the city. Occupying the building’s basement and mezzanine, contaminating common areas, and signaling to the street, some works end up relating physically and symbolically to the place; others, in turn, gain power though context or promote friction with the political and cultural history that emanates from the space.
// Diego Matos
¹ Two publications by the Italian philosopher and writer, professor and cultural agitator Franco “Bifo” Berardi were recently released in the country by Ubu Editora: Depois do futuro e Asfixia: capitalismo financeiro e a insurreição da linguagem. (After the future and Asphyxiation: financial capitalism and the insurrection of language.) The first is the epigraph: BERARDI, Franco. Depois do futuro. São Paulo: Ubu Editora, 2019. p. 179.
² Ibid. p. 182.
³ This perception of the politician as an inevitably antagonistic, polarized, and plural expression appears in an instigating way in the publication translated into Portuguese by this Belgian philosopher and political scientist: MOUFFE, Chantal. Sobre o político. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.